Você! Você mesmo. O que está havendo ali? Mais uma vida se esvai… Quanta gente ao redor querendo, vibrando para salvá-la… Olho e vejo os homens de branco, homens do céu e do asfalto, focando apenas um alvo: salvar vidas.
Expectadores filmam tudo, os olhos correm para os detalhes da cena que não conseguem dela decifrar o real valor daquilo que de fato acontece por lá. Olhando com a sensibilidade do humano adormecido aparece a pedagogia do cuidar: um homem de branco se debruça sobre ferimentos e unta a ferida, outro ausculta a canção da vida que pulsa no pulso.
Nesse “take”, um clique evangélico bate a minha consciência: descia um homem de Jerusalém… Ou desciam vários homens e que apenas um deles conseguiu aproximar-se com atitude de cuidar de um como aquele que caiu à beira do caminho, socado, assaltado, atropelado, abandonado, etc. por outros de sua raça. Poxa, quanta semelhança com o fato ali a minha frente, embora em épocas tão distintas. Samaritanos hoje? Sim! Ainda resistem, cuidam tal qual uma mãe que diz sim à vida em sua plenitude.
Entre cenas, percebo fundir-se em uma conexão de vida, e vida em abundância, a horizontalidade e verticalidade da vida se espraiando na figura desse homem ali na rua, cercado, olhado, especulado, mas, sendo cuidado. A inquietude não deixa estar como estar. Pois não basta apenas passar, mas no mínimo se inquietar e, por fim, fazer o que deve ser feito. Sim! No anonimato, sem câmeras, sem aplausos. Um “herói” que parte “invisível” na multidão, é apenas “seu Zé” que deu um toque de celular para o 192. Tão igual, se não fosse sua atitude amorosa. Quem percebeu o detalhe da camisa que vestia ao socorrer o seu próximo? Gentileza gera gentileza.
A vida desperta, a sirene parte rasgando o trânsito e me deixa com a responsabilidade de fazer o que puder para ser luz que cuida e se cuida. Pois que podemos dar de nós se assim não tivermos? Incluindo pequenas atitudes de amor, que se diluem em sorrisos, olhares carinhosos, abraços, toques… Exercícios! Ora na era da corpolatria, nada como preencher a alma com atividades gratuitas de afeto, alimentação saudável que evita a morte por inanição de doses infinitas de amor e abstinência de substâncias ou práticas prejudiciais a saúde do corpo e da alma, no cultivo de esforços para viver em paz com os outros e ajudá-los o melhor possível na partilha da vida que bem administrada gera mais vida e vida em abundância. Vida essa que Deus nos deu e que saltita como criançinha aonde quer que se vá, enquanto se cuidar.
Aqui estamos nessa avenida, em corpos materiais, vivendo uma experiência espiritual. Ah! O zelo pela nossa vida e a do outro deve nos consumir, reflito enquanto nos afastamos cada um pro seu lado. Nesse ínterim volto para mim e lembro-me de algo que li em um dos ensaios do filósofo Montaigne: Não é para se exibir que nossa alma deve desempenhar seu papel; é para nós e em nós, onde ninguém a vê senão nós mesmos.
Celuy Araujo
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