sábado, 18 de junho de 2011

Um pouco mais de festa!

           Junho é um mês particularmente importante pra mim (acho que já ficou claro já que eu só tenho falado nisso, com tantas postagens sobre essa data, não é mesmo? Já falei de São João, Santo Antônio e, quando estiver mais próximo da data, São Pedro!). Uma das principais razões de gostar tanto dessas festas é pela tradição nordestina. Essa é uma época que fala muito dos nossos costumes e cultura, alguns do passado e outros do presente. Eu, claro, tenho muitíssimo orgulho de ser nordestino, com todo o nosso regionalismo, vícios de linguagem e tudo que temos direito. Lembrando que a festa de São João não é uma exclusividade brasileira, mas só no Brasil ela é tão rica em detalhes (em outros países é comemorado como um dia de santo comum). No resto do país a data também é comemorada com muita festa, bandeirinhas, fogueiras e quadrilhas, mas eu vou dar uma ênfase maior ao que fazemos aqui no nordeste. O resto do país tem, cada qual, sua maneira mais específica de passar essa data.
             Hoje quero aproveitar a proximidade do feriado pra falar um pouco mais de duas partes ótimas dessas nossas festas tão divertidas: As comidas típicas e Os costumes!

·         Comidas típicas (nhami):

      Como todos sabem, a base das comidas típicas de junho é o milho. Canjica, pamonha, mugunzá (doce e salgado)... Isso acontece, por causa da época das festas (o meio do ano, período de chuvas). O milho é uma das principais culturas do nordeste, e essa é a época de melhor colheita. Já que temos milho abundante, e muito barato, porque não unir o útil ao agradável?
             Notem que são todas receitas muito simples. Em geral, usam apenas milho, leite, e temperos mais comuns. É uma época muito boa pra renda extra das cozinheiras da região. Como são muito valorizadas, elas acabam tirando um ótimo lucro com um pequeno custo. Uma pamonha, por exemplo, que custa em geral R$ 1,50 na época "normal", chega a aumentar 200% seu valor.
             E, claro, mesa farta é inerente ao nordestino. É com muito orgulho que digo que nós somos considerados o povo mais receptivo de todo o Brasil! Acolhedores, simpáticos, divertidos. Temos o costume de mostrar sempre o melhor em nós, nas nossas cidades, das nossas casas, e claro, na mesa não seria diferente. A maior alegria de um bom nordestino é saber que está dando o melhor de si pra receber bem seus convidados. Uma questão cultural nossa que é passada de geração em geração.
             Algumas das comidas típicas: canjica, pamonha, mungunzá, milho assado, milho cozido, bolo de milho, pé-de-moleque, biscoito de milho, pipoca, bolo de macaxeira, tapioca, arroz-doce, etc.

·         Costumes e Tradições:

           - Fogueira: Algumas referências dizem que é um rituais europeus que foram incorporados pelo cristianismo, outras dizem que é um costume vindo da época da inquisição e simboliza a purificação das almas. Eu aprendi desde criança (tanto na igreja como na escola) que a tradição da fogueira começou com o acordo feito pelas primas Maria (mãe de Jesus) e Isabel (mãe de João Batista). Para que Maria soubesse do nascimento de São João Batista e assim pudesse auxiliar após o parto, Isabel teria de acender uma fogueira sobre um monte. Assim, tornou-se um costume, na nada que comemoramos o dia de São João, acender uma fogueira e relembrar seu nascimento. (Inclusive, eu falei sobre esse costume na postagem sobre “São João”).

           - Quadrilha: Esse é um dos costumes muito animados e divertidos desse mês. É quase impossível alguém ouvir falar de São João sem lembrar de dançar quadrilha. De tão incorporado aos nossos costumes, difícil é encontrar alguém que não conheça sequer um passo dessa dança. Só de ouvir qualquer um o puxador gritar "alavantu", "anarriê", "grade roda", "serrote", "passeio na roça", "o túnel", todo mundo já corre direto pra sua posição, sem errar, e sai tudo direitinho. A quadrilha tem sua origem nas danças européias, trazidas pelos colonizadores, e aos poucos foi sendo adaptada ao nordeste, como as roupas, o casamento matuto, os passos e claro, a diversão (porque, claro, ninguém sabe farrar se divertir melhor que um nordestino). A razão da festa vem do casamento matuto. Toda boa quadrilha tem um casamento! Isso porque, religiosamente, no dia de Santo Antônio (o “santo casamenteiro”) muitos noivos revolvem casar e, daí, comemorar com uma grande festa. Assim foi se tornando tradicional a idéia da quadrilha, por causa das festas de casamento.

           - Bandeirinhas: É uma tradição católica fazer estandarte com grandes fotos dos santos em suas datas comemorativas e fazer passeatas e procissões. Nas festas juninas não é diferente. Aos poucos, as grandes bandeiras (como a de Santo Antônio, que é a mais conhecida) foram diminuindo e ficando alegres e coloridas. Podem notar que em algumas igrejas ainda fazem as bandeiras com a foto dos santos. Assim, com a redução e simplificação das bandeiras, todos podem comemorar a passagem do santo durante a procissão enfeitando as suas casa (afinal, essa era a intenção: deixar a casa bonita para receber a procissão com a imagem do santo). Ainda se usam os vários tamanhos de bandeiras, porém, sem a imagem estampada.

           - Caracterização: Essa parte é mais uma grande brincadeira de “encenação”. Como já pudemos notar, a grande festa de junho acontece no dia 24, e é uma grande festa não apenas por ter muita gente, mas por juntar todas essas tradições já citadas num dia só. Juntamos as bandeirinhas, as comidas, a dança e, claro, as roupas e a maquiagem! Os grandes vestidos rodados de antigamente, com a maquiagem exagerada bem evidente e penteados chamativos foi se tornando mais engraçado e “simpático” para melhor se adaptar ao festejo. Da mesma forma os homens, com barba e bigode desenhados, lembrando os homens de algumas décadas. Até o casamento matuto (que é a razão da quadrilha) é cheio de momentos engraçados, como “o pai da noiva” ou “o noivo que não quer casar”. Quanto mais camisas xadrez (que também era moda, na época das autênticas quadrilhas), saias rodadas, tranças, chapéus e afins, mais divertida fica a festa. Quando mais “matuto”, melhor!

             Agora, falando sério. É sempre bom lembrar: O São João de hoje em dia já foi uma festa “séria”. Hoje nós nos divertimos com a brincadeira, mas alguns anos atrás, as moças realmente usavam seus melhores vestidos para irem aos grandes casamentos e se juntar, no final, à grande quadrilha. As decorações eram feitas para deixar as casas mais bonitas e as comidas, para receber os parentes distantes que vinham para a festa. Tudo tem uma razão de existir, e uma boa razão! Nada foi “inventado” e tudo tem um belo significado (inclusive o nosso forró, que hoje em dia é bem desmerecido. Mas eu deixo pra falar disso - a cultura nordestina - em outra ocasião).
Contudo, é obrigação nossa respeitar aquilo que os nossos ancestrais (pais, avós, bisavós...) um dia trataram com carinho e respeito. Brincar é ótimo, mas conhecer a nossa cultura é tão importante quanto. Vamos dar valor ao que é nosso, ensinar para os nossos amigos e perpetuar a história real, para que nunca se perca nem seja banalizada (como muitos traços da nossa cultura infelizmente são) essa importante tradição cultural. Preste atenção nos detalhes, da próxima vez que você for numa típica festa de São João. Aposto que vão sair associando muitas coisas e vão amar ainda mais suas raizes "matutas"!

Boas festas pra todos!

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